Numa regressão, visualizei a origem da minha falta de amor próprio. A primeira pessoa a quem eu escolhia relegar a segundo plano era eu mesma, sempre achando que deveria fazer os outros felizes, entender seus momentos de raiva, stress, e não magoar os sentimentos alheios, não importava o quanto me magoassem. Eu me olhava no espelho e me achava feia, só conseguia enxergar meus defeitos, minha falta de feminilidade.
Apesar de reconhecer (depois de muitos anos com afirmações positivas) minhas qualidades e até mesmo a me enxergar como menos "horrorosa", ainda assim minha percepção sobre mim mesma sempre remontava a um certo rebaixamento frente aos outros.
Até o momento em que entendi de onde surgiam tais sentimentos. Em 1570, no Japão feudal, eu era uma gueixa, muito bonita, que vivia um romance proibido e, como punição, tinha metade do rosto queimado, passando a me fantasiar de demônio (o chamado oni) e assustar os viajantes na floresta onde morava.
Naquela encarnação, após sofrer a queimadura, eu não queria mais olhar para o meu rosto, neguei o meu feminino, assumindo um papel masculino para sobreviver às margens de uma sociedade que não me aceitaria.
A primeira imagem que veio na regressão foi a da máscara de demônio no meu rosto e era assim como eu me via, muito distante da exuberante gueixa que fora outrora.
Ressignificando a encarnação, levando aquela mulher para um lugar seguro, para viver seu amor e ser feliz, a própria interação comigo mesma mudou a partir de então. Foi interessante que algumas horas depois de realizar o fechamento da ressignificação, tive trejeitos daquela personalidade, tocando em meu braço de uma maneira tão suave, feminina e amorosa como nunca tivera feito antes.
Essa foi apenas uma encarnação - a mais marcante - em que se iniciou uma falta de amor próprio, com o sentimento guardado e mantido em meu inconsciente por quase 500 anos, se repetindo o padrão de desamor interno que foi um dos fatores para construir uma pessoa travada e bloqueada com relação a poder estar bem consigo mesma.
A falta de amor próprio nos faz deixar de dar a nós mesmos o que deveríamos, achando que não é nosso lugar receber nossa própria atenção, ternura, carinho, nos sacrificando pelos outros e depois exigindo deles algo que fomos incapazes de nos prover, criando um débito que não precisaria existir se olhássemos para dentro.
A presença do amor próprio nos faz não ultrapassar os limites do razoável ao doar-se, não dar mais do que oferecemos a nós mesmos, não implementando um egoísmo cego, mas sim reconhecendo que também precisamos da atenção, carinho e afeto. Havendo amor próprio é prazerosa a própria companhia, não sendo necessário mendigar a atenção e amor dos outros ou até mesmo ficar em um relacionamento que causa dor e sofrimento simplesmente por ter medo de ficar só. Ficar só consigo mesmo deixa de ser um tormento e passa a ser uma alegria.
Que tal investigar o seu amor próprio?
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